Guarapari: viagens com gosto de infância
- por: Tati Rocha
- 10 de outubro de 2017
- 1 comentário
Somos três filhos. A diferença entre meu irmão mais velho e eu, que sou a caçula, são cinco anos. Tínhamos uma Marajó caindo aos pedaços. Meu pai trabalhava enquanto minha mãe cuidava da casa e dos filhos. Na década de 80, éramos uma típica família mineira de classe média, que no verão se enfiava no carro e se mandava para Guarapari para alguns dias de diversão. Se hoje você me chamar para uma viagem ao Espirito Santo, eu vou olhar torto e dizer: “não volto lá nunca mais”, mas no fundo, em algum lugar bem escondidinho do meu coração, eu sei que ali estão as melhores lembranças da minha infância.
Pé na estrada
Nossas viagens anuais eram embaladas por uma fita cassete com músicas do Roberto Carlos, repetida incessantemente durante as 9h ou mais de viagem. Sim, as viagens duravam cerca de 9h. Primeiro porque tínhamos uma Marajó mal cuidada. Fora isso, eu e meus irmãos enjoávamos na estrada e era uma vomitação de BH até lá (minha mãe só descobriu o dramin quando eu devia ter uns 10 anos). A Marajó sempre, sempre mesmo, dava problema na estrada. Era surreal. Além disso, meu pai dirigia a 70 por hora de BH a Guarapari.
Casa de parente em Guarapari
Como todo bom mineiro, tínhamos um parente com casa de veraneio em Guarapari, mais especificamente na praia de Santa Mônica. Então em julho já era hora de pedir a casa emprestada. O lugar era um mafuá e ficava fechado muito tempo, então o primeiro dia de praia era só pra limpar a casa. Acho que eles eram acumuladores, mas mesmo assim a gente levava o porta-malas da Marajó cheio pra lá. Pasmem: a gente levava até ventilador e televisão. Isso mesmo: televisão. Eu gostava de ficar lá, mas meu sonho era ficar no Igloo Inn, um hotel ao lado da casa. Pensa bem como criança pensa pequeno: eu queria ficar em um hotel na praia que tinha formato de iglu (e que era quente pacas). Quem se lembra dessa rede de hotéis?
Santa Mônica
Gente, Guarapari era o must né, principalmente no fim da minha infância e princípio da adolescência, só que o negócio era ficar na Praia do Morro. Mas não! Como a casa do parente era em Santa Mônica era lá que ficávamos. Só que meu pai tem TOC. Não saíamos pra outras praias. Ficávamos todos os dias em Santa Mônica. Só um dia, um único dia, íamos para a Praia do Morro. E só podíamos ficar tipo duas horas lá. Os outros dias eram no mesmo bar, na mesma praia, na mesma Santa Mônica…
As melhores lembranças
As nossas viagens para Guarapari tinham tudo para dar errado, carro falhando, menino vomitando, casa velha, dinheiro contado, mas eu amava ir pra lá. Lá em casa a mala começava a ser arrumada 15 dias antes. A casa ficava uma bagunça e todo mundo contava os dias pra viagem.
Chegando lá era só festa. Eu amei praia desde a primeira vez que pisei em Guarapari. E Santa Mônica tem um mar calminho. Eu passava o dia sentada na areia brincando, fazia boas amizades, estava sempre no mar com meu pai. As viagens da família eram preparadas para nos divertirmos pra valer.
Sem falar das idas ao supermercado Perocão para comprar peixe e camarão (que meu pai sabia preparar muito bem), nos peroás que comíamos na barraca de praia do “Ali Baba” ou do Dodô, nos pescadores e seus arrastões que eu adora acompanhar. E tinha aquele Tigrão na entrada da cidade. De repente também bate uma saudade danada das caminhadas para Setiba e a vontade de conhecer as “Três praias” (não rolava porque tinha que pagar pra entrar rsssss).
É, realmente se alguém me convidar pra voltar a Guarapari eu provavelmente não vou. É como se eu tivesse tido uma overdose e não quisesse cair de novo no vício, mas eu devia voltar, pois com certeza esse espirito nômade que tenho hoje surgiu desses bons momentos em família que já não voltam mais.
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Você e seus comentários que nos comovem. Tenho tantas lembranças boas de lá, na minha infância, que em 5 minutos, enquanto estava lendo, passava um filme na minha cabeça de como eram as minhas idas para Guarapari. Fui muito, continuo indo e irei ainda mais.